«City of Lisbon» atracado ao cais da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos com um rombo na proa (1947). Arquivo do Porto de Lisboa

Cais

«City of Lisbon» atracado ao cais da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos com um rombo na proa (1947). Arquivo do Porto de Lisboa
As Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos foram construídas para suprir uma necessidade antiga: dotar a cidade de Lisboa de cais apropriados para acolher grandes navios de passageiros. A construção das gares estava prevista ainda para a década de 1930, mas sucessivos atrasos e dificuldades adiaram a data até 1940, ano em que se desejava que a Gare de Alcântara estivesse pronta para acolher visitantes para a Exposição do Mundo Português de 1940 — a mais célebre e maior exposição de propaganda ideológica nacionalista do Estado Novo.

Mas esse objetivo não foi conseguido. A Gare de Alcântara só inaugurou em 1943 e a da Rocha do Conde de Óbidos em 1948. É já com as gares em funcionamento que Almada irá executar as pinturas murais de enormes dimensões que as habitam. 

Inúmeras histórias passaram pelo cais, durante a construção das gares e depois. No início da Segunda Guerra Mundial, milhares de refugiados esperaram aqui pelos vistos e barcos que lhes permitiriam sair da Europa. 

Antes e depois da guerra, milhares de emigrantes daqui partiram para as Américas. 

Também daqui partiram os colonos para Angola, Moçambique, e, em menor número, Guiné Bissau e Cabo Verde, numa colonização que foi estimulada até ao fim da ditadura. 

Mas aqui chegaram, por outro lado, muitos que regressaram à Europa depois da guerra, turistas, emigrantes que visitavam família, ou africanos que, entre outros destinos, ingressaram na Casa dos Estudantes do Império — alguns ali organizando resistências anti-coloniais. Daqui partiram soldados para combater na guerra levada a cabo pelo Estado Novo pela manutenção dos territórios africanos, com incontáveis perdas de vidas de ambos os lados do conflito. 

Aqui voltaram depois os soldados sobreviventes, e, após o 25 de Abril, com a descolonização, a enorme leva de população retornada das ex-colónias. 

Até aos dias de hoje, o cais continuou sempre a funcionar como entreposto de passageiros e mercadorias, e como lugar de passagem e espera.