
Passagens
As leis raciais dos regimes nazi e fascista da Alemanha e da Itália determinaram a perseguição a judeus nesses países e naqueles que ocuparam. Também os opositores políticos e etnias minoritárias foram perseguidos, bem como artistas modernistas e de vanguarda. Os que tinham meios ou conseguiam ajuda de redes solidárias e financiamento, tentaram escapar, muitos deles passando por Lisboa. Era preciso vistos de trânsito para os países por onde se passava e visto de entrada no país de destino, e ainda bilhetes de comboio, ou carro (e gasolina), além da passagem de barco. Esses documentos e bilhetes de transporte eram difíceis de obter e onerosos. Muitos vistos eram falsificados. Por vezes, a falha em obter vistos de trânsito obrigava a atravessar clandestinamente as fronteiras, correndo-se o risco de deportação.
Os que tinham meios ou conseguiam ajuda de redes solidárias e financiamento, tentaram escapar, muitos deles passando por Lisboa.
A Gare de Alcântara inaugura em 1943 com a chegada do navio Serpa Pinto onde viajavam cerca de 230 refugiados ingleses. Porém, depois de um grande fluxo nos anos 1940 e 1941, o trânsito migratório diminuíra muito.
Com o fim da guerra em 1945 retomou-se a normalidade do tráfego marítimo. Várias pessoas regressaram à Europa, outras ficaram a residir nos EUA, Canadá, ou países da América Latina. No contexto pós-guerra, passaram pelas Gares vários viajantes a caminho do outro lado do Atlântico ou de lá chegados. A partir dos anos 1950 e sobretudo 1960, o meio de transporte preferencial nas viagens transatlânticas passa a ser o avião e há um decréscimo de viagens marítimas.
Nas gavetas de «arquivo» desta sala encontram-se algumas histórias de quem passou por este cais nos anos da guerra e depois.
A condição de perseguido e de refugiado, por motivos religiosos, políticos, de etnia ou de país de origem, continua bem presente hoje em dia para pessoas de várias partes do mundo.
Os vistos de Aristides de Sousa Mendes

Em 1940 e num curto espaço de tempo, o cônsul português em Bordéus Aristides Sousa Mendes (1885-1954) passou milhares de vistos à revelia das ordens do governo português. Seria travado no início de julho com um processo disciplinar. Em sua defesa, Sousa Mendes alegou que a Constituição Portuguesa impedia a negação de acolhimento com base em descriminação política ou religiosa. A ditadura de Salazar acabou por afastá-lo de responsabilidades diplomáticas.
A concessão de vistos por Sousa Mendes fez com que houvesse um fluxo migratório de várias dezenas de milhares de pessoas em Portugal no Verão de 1940, judeus e não judeus. Outros, como o jornalista Varian Fry (1907-1967), o vice-cônsul norte-americano em Marselhas Hiram Bingham IV (1903-1988) e a entidade privada norte-americana Emergency Rescue Comittee, providenciaram documentos (às vezes falsos) e financiamento para muitos conseguirem sair da Europa.
A Hebrew Immigrant Aid Society (HIAS-HICEM) foi autorizada a transferir-se de Paris para Portugal depois da ocupação alemã, e o World Jewish Congress e a American Jewish Joint Distribution Committee, representada pelo médico Augusto Isaac d’Esaguy (1899-1961), também operavam em Lisboa, prestando auxílio à população judaica em fuga.
Também com vistos de outros consulados, muitos refugiados e outras pessoas em trânsito permaneceram em Portugal, alguns numa longa espera por todos os vistos necessários (e renovação dos documentos que lhes permitiam estar em Portugal) e para comprar passagem nos navios que os levassem às Américas. A Hebrew Immigrant Aid Society (HIAS-HICEM) foi autorizada a transferir-se de Paris para Portugal depois da ocupação alemã, e o World Jewish Congress e a American Jewish Joint Distribution Committee, representada pelo médico Augusto Isaac d’Esaguy (1899-1961), também operavam em Lisboa, prestando auxílio à população judaica em fuga.
Em vários navios, e até 1944, viajaram crianças sem família, muitas delas enviadas pelos pais para as salvarem. No total terão passado por Portugal 60 000 a 80 000 refugiados durante a guerra.
Entrevistas às historiadoras Irene Pimentel e Inês Fialho Brandão, e ao jornalista Ferreira Fernandes, sobre a passagem de refugiados pelo cais de Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial. Entrevistas por Mariana Pinto dos Santos, imagem e montagem de Tiago Figueiredo, 2024.