
O que contam as paredes

Os temas tratados na Gare Marítima de Alcântara tinham causado desconforto nas autoridades, pois Almada escolhera pintar não os supostos heróis celebrados pela ditadura do Estado Novo, mas as figuras mais pobres dos marinheiros, a população comum e o quotidiano da vida ribeirinha de Lisboa.
Nas paredes de Alcântara, a história da nau Catrineta que se devia passar no século XVI é tratada de forma trágico-cómica no século XX, e, entre as imagens populares e humildes que povoam todos os painéis, destaca-se o trabalho duro das carvoeiras no cais. Na Rocha do Conde de Óbidos a representação da pobreza, de artistas de rua (saltimbancos), e de uma partida de emigrantes, bem como a linguagem visual arrojada e vibrante, nunca usada em encomendas oficiais, obrigaram a movimentações em defesa de Almada, para proteger as pinturas de eventual destruição.