Almada, no chão, prepara os cartões para as pinturas da Gare de Alcântara (1945)

O que contam as paredes

Almada, no chão, prepara os cartões para as pinturas da Gare de Alcântara (1945). CEDANSA - NOVA FCSH. © Herdeiros de Almada Negreiros.
Almada Negreiros acabou de pintar a Gare Marítima de Alcântara em 1945, ano em que terminou a Segunda Guerra Mundial, e a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos em 1949. Esta sala é dedicada às pinturas murais nas duas Gares, mostrando o longo processo de conceção dos seus temas através de documentação variada.
Almada no andaime da parede poente da Gare Marítima de Alcântara.  CEDANSA - NOVA FCSH. © Herdeiros de Almada Negreiros.
Almada no andaime da parede poente da Gare Marítima de Alcântara.  CEDANSA - NOVA FCSH. © Herdeiros de Almada Negreiros.

Os temas tratados na Gare Marítima de Alcântara tinham causado desconforto nas autoridades, pois Almada escolhera pintar não os supostos heróis celebrados pela ditadura do Estado Novo, mas as figuras mais pobres dos marinheiros, a população comum e o quotidiano da vida ribeirinha de Lisboa. 

Nas paredes de Alcântara, a história da nau Catrineta que se devia passar no século XVI é tratada de forma trágico-cómica no século XX, e, entre as imagens populares e humildes que povoam todos os painéis, destaca-se o trabalho duro das carvoeiras no cais. Na Rocha do Conde de Óbidos a representação da pobreza, de artistas de rua (saltimbancos), e de uma partida de emigrantes, bem como a linguagem visual arrojada e vibrante, nunca usada em encomendas oficiais, obrigaram a movimentações em defesa de Almada, para proteger as pinturas de eventual destruição.