Diz que disse

Diz que disse

Ao longo do tempo em que Almada Negreiros projetou e pintou as pinturas murais das Gares Marítimas, foram feitas reportagens e entrevistas sobre o seu trabalho.

Também depois de terminadas as pinturas, o artista referiu-se-lhes em depoimentos, dando conta das dificuldades e constrangimentos que sofrera, e deixando algumas pistas sobre a polémica que suscitaram e o risco que correram as da Rocha do Conde de Óbidos. 

Mais tarde, já depois da morte de Almada, a pintora Sarah Affonso, sua mulher, deixou também importante testemunho sobre como se haviam passado os trabalhos nas Gares Marítimas e como ela própria ajudara o marido na segunda Gare. 

Paralelamente, chegaram até aos dias de hoje uma série de documentos oficiais, que dão conta do sistemático pedido de pareceres sobre os murais de Almada para as gares à «6ª Junta Nacional de Educação», organismo da ditadura do Estado Novo responsável por fazer relatórios sobre assuntos relativos a decoração para obras públicas. Na época, o arquitecto Porfírio Pardal Monteiro e o Diretor do Museu Nacional de Arte Antiga João Couto eram membros dessa Junta, e os seus pareceres foram determinantes para que Almada pudesse ser contratado, para que o orçamento fosse aprovado e, finalmente, para que as pinturas da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos fossem preservadas. 

Os documentos oficiais, incluindo pareceres, despachos e contratos podem ser consultados nos dois écrans. Quando os telefones tocarem, o visitante pode atender e escutar algumas das entrevistas e depoimentos reproduzidos na mesa, onde também se encontram notícias da inauguração das gares.

PINTURAS MURAIS DAS GARES
Cronologia

1941 — Almada Negreiros começa a estudar a composição das pinturas murais para a Gare Marítima de Alcântara.

1943 — A 17 de julho, inaugura a Gare Marítima de Alcântara. Segundo cartas e testemunhos, o Ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco fez um acordo verbal com Almada Negreiros, no qual o orçamento de Alcântara ficara estabelecido em 200 contos na condição de que o da Rocha do Conde de Óbidos fosse 500 contos. A 16 de novembro morre o Ministro Duarte Pacheco, sucedido por Augusto Cancela de Abreu.

1945 — Almada Negreiros termina as pinturas murais da Gare Marítima de Alcântara.

1946 — São pedidos pareceres à 6ª Secção da Junta Nacional de Educação sobre se a encomenda das pinturas murais da segunda gare deve ser entregue a Almada. O parecer de João Couto indicia que as pinturas da Gare Marítima de Alcântara tinham causado polémica e desconfiança. A Direcção Geral dos Monumentos e Edifícios Nacionais decide a favor de Almada.

Almada Negreiros apresenta o orçamento verbalmente combinado com Duarte Pacheco que é considerado excessivo. Nova ronda de pareceres são requisitados, e o orçamento é fixado em 450 contos.

1947 — O Ministro das Obras Públicas Augusto Cancela de Abreu é substituído por José Frederico Casal Ribeiro Ulrich a 4 de fevereiro. 

A 17 de fevereiro, Almada assina contrato para executar as pinturas murais da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos.

1948 — A 18 de junho, inaugura a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos.

Em novembro, Pardal Monteiro emite parecer aprovando a composição para o segundo tríptico na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos a que chama «Cais» e que corresponde ao que atualmente é designado por Partida de Emigrantes. A Direcção Geral dos Monumentos e Edifícios Nacionais confirma aprovação.

Almada começará os trabalhos no final desse ano. A sua mulher, a pintora Sarah Affonso, será sua ajudante no trabalho de aumento dos esquissos preparatórios e na transferência do desenho para a parede.

1949 — Almada termina as pinturas murais na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. Segundo testemunhos do artista e de Sarah Affonso, as pinturas desencadeiam uma polémica. Terá sido o Ministro José Frederico Casal Ribeiro Ulrich a liderar a campanha contra as pinturas de Almada. 

Em novembro, são emitidos pareceres por Pardal Monteiro e João Couto em defesa das pinturas, aparentemente decisivos para que não fossem destruídas.