
História mural
Nem sempre essas pinturas tiveram a função de representar: tinham antes o papel de convocar ou afastar espíritos, augurar boas colheitas, ou celebrar acontecimentos.
A pintura mural, embora nunca tenha desaparecido, teve novo estímulo no século XX na sua função decorativa e política
No Ocidente, a pintura mural conheceu grande desenvolvimento no final da Idade Média e com o Renascimento Italiano, sobretudo a técnica do fresco, que consistia em aplicar em gesso húmido pigmentos de cor misturados com água. Este processo dava grande qualidade e durabilidade às pinturas. Ao longo do século XVI, os artistas desenvolveram técnicas de fresco e secco combinadas, para aumentar a amplitude de possibilidade da pintura mural. A técnica a secco implica misturar o pigmento com um elemento ligante como a clara de ovo, cola ou óleo para que a tinta fique presa à parede. A pintura mural, embora nunca tenha desaparecido, teve novo estímulo no século XX na sua função decorativa e política, e foi usada para promover a vida moderna (em clubes e cafés por exemplo), para propaganda de ditaduras, ou para mensagens revolucionárias e de resistência.
As pinturas que Almada fez para Alcântara e Rocha do Conde de Óbidos misturam técnica a fresco e a seco, e o processo de restauro implicou testar várias possibilidades de combinação de materiais. Vários desses testes podem ser vistos no Centro Interpretativo (cedidos pela empresa de restauro Nova Conservação). O restauro foi feito graças à angariação de fundos pelo World Monuments Fund e foi filmado pela cineasta Graça Castanheira.
O artista João Fazenda criou para o Centro Interpretativo uma história visual da pintura mural, evocando alguns dos seus momentos: a pintura rupestre, a pintura dos antigos egípcios, a Antiguidade Clássica, a Idade Média, a arte Azteca, o Renascimento e o Maneirismo, as paredes pintadas da Lunda em Angola, o próprio Almada Negreiros a pintar as Gares Marítimas, os muralistas mexicanos, Miró, as paredes cobertas pelos murais do PREC (Período Revolucionário Em Curso) que sucedeu à Revolução do 25 de Abril de 1974, e a Street Art, oficial ou clandestina, que hoje vemos nas paredes das cidades.